quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Uma Reflexão sobre drogas e outras “coisinhas” mais




Tocando Trombetas em uma Sociedade
Fundamentada em uma Globalização Imperialista e regada a Drogas।

Globalização é apenas um novo nome para uma prática antiga de dominação e de controle। Tal prática já foi denominada de imperialismo e em épocas mais remotas de colonialismo. Os efeitos nefastos da globalização são sentidos nos países mais pobres ou nos países onde a riqueza não é distribuída de forma mais justa. O controle de mercado tem envolvido um maior número de desempregados e de excluídos.

Cabe aqui um parêntesis। De acordo com SAMPAIO, exclusão, hoje, não é apenas uma palavra, mas uma categoria, diferente, portanto de exploração, marginalização, etc. Para os excluídos nem se prevê exploração. O explorado ainda está integrado no sistema capitalista; o excluído está fora.

Para o controle de mercado é necessária a exposição persuasiva de bens de consumo, para a qual são utilizados os meios de comunicação social. No artigo "Imagens, letras e sons dominam o homem", publicado no Correio da Manhã, Rio, 9/10/1966, Luiz Carlos Bonfim já se expressava assim:
"Os gostos e preferências, hábitos, valores, idéias e atitudes, enfim, o comportamento do homem contemporâneo - escreveu um comentarista - parece cada vez mais condicionado pelos meios de comunicação de massa: a imprensa, o rádio, a televisão e o cinema. Em apenas alguns dias, um novo ritmo, até então ignorado, torna-se ‘coqueluche’ de toda uma geração. Um novo modelo de automóveis conquista de repente a preferência do mercado. Subitamente, os cabelos crescem, os vestidos encurtam, as calças tornam-se mais estreitas, as mulheres passam a usar ‘terninhos’ e assim por diante. (...) Por ocasião de um homicídio múltiplo cometido por um louco no Texas, um psicólogo americano reclamou ‘certa autocensura’ dos meios de divulgação, sob a alegação de que ‘o homicídio é tão contagioso quanto o sarampo’. Uma sucessão de ocorrências policiais parece demonstrar o acerto de tal opinião. (...) Para muitos, a ação crescente dos meios de comunicação coletiva criou um fenômeno inédito, um novo tipo de cultura - a cultura de massas - cujas características essenciais seriam a homogeneidade, a baixa qualidade e a padronização dos gostos, idéias, preferências, motivações, interesses e valores”.

ÁVILA demonstrou a tese sobre a participação estrangeira e como o capital se entrelaça com o manejo da televisão brasileira com o objetivo de acumular bens, sendo uma forma de colonialismo pela imagem e pelo som. E tudo envolvendo uma ideologia que controla e manipula a todos.
Por ideologia entendemos o conjunto lógico e sistemático de idéias, valores e normas de conduta que indicam aos indivíduos o que e como pensar, agir, sentir e valorizar. Sua função é fornecer aos membros de uma sociedade uma justificativa para as diferenças ali existentes, sem nunca referir que essas diferenças são resultantes da divisão da sociedade em classes. A ideologia é a forma por meio da qual as idéias da classe que domina se pareçam universais, verdadeiras e naturais para todas as classes. A origem da ideologia está na própria divisão da sociedade em classes contraditórias, a partir das divisões nas esferas da produção.
Desse modo:

"A massificação é condição necessária à sobrevivência ou ao prolongamento da existência das estruturas sócio-econômicas geradas pelo desenvolvimento capitalista. Os meios de comunicação são meros instrumentos; não são geradores de estruturas, mas resultados delas, servidores delas”.
O objetivo principal dos meios de comunicação social é a propaganda da ideologia e de produtos, no sentido de que sejam assimilados e incorporados, isto é, transformados como imprescindíveis para a consciência individual e social, sob o controle dos magnatas da produção e dos governos, representantes, em sua maioria, da elite dominante.

Para manter a ideologia hegemônica, tudo que passa pela mídia é selecionado para referendá-la. Mesmo as informações científicas, já que poucos têm acesso às fontes primárias, são igualmente selecionadas. A história oficial é o exemplo mais marcante. As teorias científicas selecionadas são passadas pela mídia para serem contempladas e absorvidas, e não como frutos da atividade humana, quer dizer, passíveis de falhas e de questionamentos. Em outras palavras, teorias científicas que referendam a ideologia ou que ratificam sua hegemonia são apresentadas pela mídia de forma exacerbada, sensacionalista e, às vezes, como verdades absolutas (= dogmas); enquanto àquelas que vão de encontro à ideologia são ignoradas.

Esse patrulhamento ideológico não é novo. Copérnico, Galileu e Freud, apenas para citar alguns, somente foram reconhecidos quando suas idéias puderam ser incorporadas na ideologia da época.
Freud é um exemplo recente। Atacado, no início do século passado, época de forte repressão sexual, por suas idéias sobre a sexualidade humana, e trazendo Jung à testa do movimento psicanalítico para que a psicanálise não fosse vista como "ciência judaica"; hoje é a inspiração por excelência nos mais diversos campos em que a ideologia precisa se fortalecer.

Isto é, as idéias de Freud são usadas pela ideologia no significado mesmo de utilidade pragmática. A expressão "Freud explica..." tornou-se um chavão da ideologia contemporânea.
Entretanto, longe de diminuir as contribuições de Freud, que nos legou um método inovador de observar e de compreender a mente humana, é dever apontar que a análise de Ernst Lanzer (1878-1914), conhecido como o caso do "Homem dos Ratos", " (...) é sem sombra de dúvida, a mais elaborada, a mais estruturada e a mais rigorosamente lógica.
A análise durou cerca de nove meses, de outubro de 1907 a julho de 1908, e Freud falou dela em cinco oportunidades nas reuniões da Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, antes de apresentar o caso no primeiro congresso da International Psychoanalytical Association (IPA) em Salzburgo, em 26 de abril de 1908, num relatório verbal de cinco horas। (...) O caso do Homem dos Ratos foi considerada a única terapia perfeitamente bem sucedida de Freud”.

Com a globalização é atingido o apogeu do controle pelos meios de comunicação social. Semelhante a um tornado, a globalização quebra diferenças culturais e econômicas. Os objetivos são tornar uniformes determinados padrões de comportamento, de valores, de beleza e de arte. Assim, essa uniformidade se refere a formas definidas de viver e de adoecer nos mais distintos pontos do planeta.
BERLINGUER argumentou que quanto mais primitiva é a exploração do capital, por exemplo, no campo, mais atingido são as funções mais simples: doenças orgânicas, desnutrição, etc। Quanto mais sofisticada, por exemplo, na indústria, mais atingida são as funções evoluídas da pessoa, ou seja, as de vida de relação.

Hoje, campo pode ser considerado sinônimo de países pobres; indústria é sinônimo de países desenvolvidos. Nos países onde a riqueza está concentrada nas mãos de poucos e, ao mesmo tempo, a maioria luta pela sobrevivência e certa parcela da população é de excluídos, ou seja, países que possuem áreas extremamente desenvolvidas e também áreas atrasadas ou abandonadas quanto ao desenvolvimento, observam-se tanto os efeitos da exploração sofisticada quanto da exploração primitiva.
A competitividade entre os semelhantes, na exploração requintada, requer que cada organismo esteja sempre em estado de alerta। Tal exige uma hiperfunção do sistema nervoso e hormonal que com o tempo provoca alterações no organismo. Daí surgem doenças típicas de nossa época, inclusive em organismos jovens, tais como: enfarto do músculo cardíaco, úlcera do estômago, obesidade, pânico, ansiedade, angústia, depressão, etc.

Na exploração mais rude ou primitiva a competição implica perpetuar doenças relacionadas às péssimas condições de vida e de trabalho, por exemplo, fadiga e subnutrição, as quais deixam o organismo vulnerável a doenças como malária, tuberculose pulmonar, avitaminose, tétano, intoxicação por produtos agrícolas, entre outras, que abreviam a expectativa de vida.
A globalização, dessa maneira, tem acentuado a produção de doenças e também de remédios। De acordo com CAPRA:

"(...) os perigos à saúde criados pelo sistema econômico são causados não só pelo processo de produção, mas pelo consumo de muitos artigos que são produzidos e promovidos por campanhas maciças de publicidade para alimentar a expansão econômica. (...) A publicidade farmacêutica é especificamente planejada para induzir os médicos a receitar cada vez mais. É natural, portanto, que esses produtos sejam descritos como solução ideal para uma grande variedade de problemas cotidianos. Situações de vida causadoras de estresse, com origens físicas, psicológicas ou sociais, são apresentadas como doenças suscetíveis de tratamento medicamentos. Assim, os tranqüilizantes são anunciados como remédios para a ‘depressão ambiental, ou ‘desajustamento’, e outros remédios são sugeridos como meios convenientes para ‘apaziguar’ pacientes idosos ou crianças rebeldes em idade escolar”.

Para os financiadores e controladores da mídia o indivíduo é visto apenas como consumidor ou como sujeito estatístico. Este é uma amostra qualquer da massa humana globalizada. E o que caracteriza a massa é o ajuntamento condicionado e manipulado que mortifica a individualidade. A massa é o oposto à pessoa, pois para os magnatas da produção e para os governos a pessoa é um número; e, no sentido ideológico do termo, esse sujeito é ignorado como ser pensante e portador de intenções.
A globalização, por meio da mídia, tende a uniformizar condutas ou padrões de comportamento exercendo o extermínio de diferenças culturais e determinando formas de viver, de adoecer, etc। O tempo na mídia é valioso e custa muito dinheiro. Somente quem possui dinheiro pode comprar tempo na mídia. É pela comercialização do tempo que a mídia se sustenta economicamente. Entretanto, a mídia seleciona ou filtra as idéias que estão de acordo com o universo pensante daqueles que a mantêm economicamente. Assim, os meios de comunicação social apresentam, conforme pagam e determinam seus patrocinadores, os modismos. Vivemos, entre outros, o modismo do estresse, da ansiedade, da depressão, da "década do cérebro", das dietas milagrosas, das neurociências, etc.

Em décadas passadas o pânico era denominado de choque psíquico ou "shell shock". Um estado de paralisia psíquica decorrente de um desastre ou violência de guerra, que provocava um distúrbio circulatório devido a uma intensa emoção. Hoje, o transtorno de pânico é observado no mundo inteiro, cuja prevalência durante toda a vida se situa entre 1,5% a 3,5% da população. Isso significa, provavelmente, que o homem vive num ambiente competitivo e estressante, onde muitos se aliviam no "consumo social" de álcool, no "uso recreativo" de drogas ilícitas, no comportamento anti-social, na auto medicação, na violência doméstica e nos diferentes modos de solidão.
Um outro exemplo são os transtornos da alimentação que anos atrás eram praticamente raros, em especial a anorexia nervosa (nem se falava em bulimia) que acometia principalmente jovens do sexo feminino। Atualmente, os transtornos alimentares, anorexia e bulimia, estão presentes no cotidiano, já que a incidência tem aumentado nos últimos anos. A prevalência maior é nos países industrializados e 90% dos casos ocorrem entre adolescentes e adultos jovens (de 13 a 18 anos).
É importante assinalar que foi constatado que entre 12% a 18% com anorexia nervosa abusam de drogas, incluindo o álcool e o tabaco; e na bulimia de 30% a 70% têm uma relação com substância de abuso de acordo com o National Center on Addiction and Substance Abuse, sugerindo uma conexão entre os transtornos alimentares e drogas de abuso. Os transtornos da alimentação atingem parcelas da população mais privilegiadas economicamente. A estimulação pela mídia ao consumo desenfreado e, ao mesmo tempo, o corpo delgado definido como padrão de beleza e de saúde revelam a contradição ideológica. Já apontamos as estreitas relações entre consumismo e drogas.

Se uma jovem é propensa a comer demais, ao mesmo tempo sente-se ideologicamente obrigada a manter a silhueta esbelta. Pode ocorrer de sentir culpa quando considera que come demais ou se ganha peso. Pode, dirigida por essa culpa, negar a se alimentar ou fazer orgias alimentares e depois provocar vômito ou condutas purgativas para não ganhar peso.
É interessante que, "Os indivíduos que imigram de culturas nas quais o transtorno é raro para culturas nas quais o transtorno é mais prevalente podem desenvolver anorexia nervosa, à medida que assimilam os ideais de elegância ligadas à magreza”. Tal como citado, num dos parágrafos precedentes, sobre a reclamação do psicólogo da maneira como foi veiculado pela mídia o comportamento do homicida, podemos afirmar que informações sensacionalistas sobre temas psicopatológicos pelos meios de comunicação social também são "contagiosas como o sarampo”.

Por meio de um exemplo isso é simples de entender. O estudante de psicologia que está cursando a disciplina psicopatologia, vez por outra, pode identificar-se com determinado transtorno ou aspecto da psicopatologia geral exposto pelo professor. Tal não significa que esse estudante esteja com um problema dessa natureza. Afinal, quem é perfeito? Mas, se esse estudante permanece em dúvida e não a esclarece com o professor, poderá alimentar essa dúvida a ponto de criar para si de fato um problema. Ou poderá diluir sua dúvida ao descobrir que isso ocorre também com os seus colegas. Na sala de aula são possíveis o diálogo e o esclarecimento. No entanto, quando a mídia apresenta temática relacionada a transtornos emocionais de forma sensacionalista, quantas pessoas poderão se sentir identificadas com a patologia em questão? A quem recorrer para dirimir a dúvida? Esta, alimentada, aos poucos poderá se transformar em angústia, a qual poderá desesperar a pessoa a ponto de acreditar que possui tal transtorno.
No atual contexto, PAVÃO é taxativo ao afirmar que o poder financeiro e o poder midiático [política da mídia] têm provocado um aumento assustador do sofrimento humano que reflete especialmente no campo psiquiátrico em diferentes formas: "depressões, o uso crescente de drogas, notadamente do álcool, a ansiedade que denuncia o pânico e o desamparo das pessoas diante de um mundo hostil; sofrimentos que refletem a falência dos projetos coletivos de vida..."

Certas políticas de saúde pública, amplamente veiculada pela mídia, igualmente visam somente o sujeito estatístico. Uma delas é parte da política de redução de danos à saúde pelo uso de drogas; por exemplo, fornecer seringas descartáveis e orientar o usuário de droga injetável para o uso individual e asséptico da seringa com o objetivo de evitar a contaminação pelo HIV: um método para diminuir o número de infectados por droga injetável. Na prática isso pode ser interpretado como se o sujeito estatístico devesse evitar a contaminação pelo HIV para não morrer de AIDS (o quê não seria bom para a imagem do país no mundo?), mas pode continuar morrendo no dia-a-dia devido o uso de droga injetável ou mesmo repentinamente com uma superdosagem.

Sem entrar no mérito jurídico da questão, tal não pode ser considerada uma política de saúde, mas uma política de morte. Não deveriam esses usuários ser motivado para o tratamento e, conseqüentemente, para a abstinência total das drogas? Vale salientar também que um dos motivos da diminuição do padrão de uso injetável de droga (cocaína) foi o surgimento do crack, mais accessível às populações de periferias devido seu baixo custo em relação à cocaína. Uma outra se refere à propaganda maciça sobre o uso do condom (preservativo de látex) como meio de evitar a contaminação do HIV, outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e a gravidez indesejada. Essa propaganda enfatiza de tal forma o uso desse preservativo que leva o sujeito a acreditar que de fato o condom evita por completo a possibilidade de contaminação.

De um lado, uma meta-análise de 11 estudos sobre a transmissão sexual do HIV em heterossexuais concluiu que os condons são 87% eficientes na prevenção da gravidez e diminuem o risco de infecção pelo HIV aproximadamente em 69%, ou seja, há uma probabilidade de 31% do condom falhar. MICHAEL ROLAND, editor associado do Rubber Chemistry and Technology, escreveu que os preservativos de látex têm minúsculos buracos (poros). O vírus da AIDS é 50 vezes menor que esses buracos, que podem possibilitar a passagem do vírus; além do vírus da AIDS ser 450 vezes menor que o espermatozóide.
Por outro, a eficácia do preservativo de látex como barreira para evitar a contaminação do HIV, de outras DSTs e para evitar a gravidez indesejada tem sido também evidenciada em vários estudos: o condom reduz a 10.000 vezes a passagem de fluídos diminuindo o risco de contaminação. 21 PINKERTON e AMBRAMSOM analisaram 89 estudos sobre a eficácia do condom e concluíram que o uso correto e constante do preservativo protege entre 90% a 95% da transmissão de infecção pelo HIV.
Mesmo não relevando os estudos que questionam os problemas do preservativo de látex, e com base somente nos estudos que apontam a sua eficácia, uma margem de 5% a 10% de possibilidade de contaminação é de alto risco, sendo errôneo comparar tal margem com outras margens aceitas na prevenção primária de doenças curáveis porque a porcentagem de probabilidade é mais ou menos semelhante, haja vista que a AIDS é uma doença cuja cura que ainda não foi descoberta.

A ênfase sobre o uso do preservativo de látex como estratégia certa de não contaminação, além dos riscos, deixa uma mensagem velada de estimulação ao sexo desenfreado, promíscuo, banal e, muitas vezes, inconseqüente, num real desrespeito à pessoa humana; contudo, que se encaixa bem nos parâmetros do sujeito estatístico. Lembrando que a AIDS infelizmente ainda não tem cura, atualmente há apenas duas alternativas de sexo seguro: a abstinência ou a fidelidade. Ou melhor, não existem valores mais fundamentais a serem desenvolvidos nos jovens do que simplesmente informar "use camisinha" ? Desse modo, é enganosa a informação dos meios de comunicação social de que o uso do condom evita a contaminação pelo HIV. O correto seria orientar que o uso do condom diminui o risco de contaminação. Entretanto, no mundo globalizado, que visa o lucro acima de tudo, a massa humana é para ser controlada e manipulada, ou seja, cumprir seu papel de produtora-consumidora.

A estimulação constante para a busca do prazer pela mídia implica provavelmente em alterações cerebrais, talvez nas vias dopaminérgicas e serotononérgicas à semelhança do que ocorre com dependentes de drogas psicoativas ou de pessoas com transtorno alimentar, que tendem sempre a aumentar o consumo dessas substâncias ou de se privarem de certos alimentos, especialmente carboidratos. O desgaste para sentir satisfação torna-se o propulsor de comportamentos de risco, os quais não são observados normalmente em outras espécies animais.

Durante a história da humanidade o homem sempre se pôs em risco de forma mais ou menos consciente, embora forçosamente em muitas situações. Muitos progressos, nas diferentes áreas, foram alcançados graças a essa maneira peculiar do ser humano. Entretanto, em vista do desgaste da capacidade de sentir prazer, hoje o homem se põem em risco de maneira gratuita. A forma mais usual e em moda desse risco gratuito ocorre nos chamados esportes radicais.
FARLEY descreve três tipos de personalidades de risco (risk takers), as quais denomina de personalidade Tipo T: O Tipo T intelectual (Einstein, Galileu); o Tipo T físico (atletas de esportes radicais) e o Tipo T negativo (delinqüência, crime, uso de drogas, sexo desprotegido e comportamentos destrutivos). Isso também ocorre em termos de povos (Tipo T nação), com os Estados Unidos sendo aquela que mais se expõe a riscos e o Japão como a mais aversiva a essa exposição.
Toda prática colonialista da invasão armada e da exploração pela violência foi substituída pela propaganda e publicidade.

Os países de Terceiro Mundo vivem, muitas vezes, de forma risível quando de tentativas para copiar um modelo de desenvolvimento apresentado sedutoramente pela mídia. Quando o Norte está tentando o caminho da recuperação de um modo deletério de estilo de vida ou de informações, o Sul começa a entrar em surto epidêmico. Ocorreu, por exemplo, com a cultura hippie, como ocorre com a moda do vestuário, com a música, com as teorias científicas, etc. Nos países colonizados pela globalização as teorias e os padrões de viver dos colonizadores são transformados, sem uma avaliação crítica, em regras de conduta.
Nos países de Terceiro Mundo a globalização tem aumentado ainda mais o fosso entre uma minoria privilegiada e a maioria que vive na pobreza. De um lado, a minoria, por exemplo, têm um serviço de bordo de alto nível e de alto custo financeiro nas aeronaves modernas, e acesso a uma medicina sofisticada, de ponta. De outro, boa parte carece de saneamento, condições dignas de moradia, entre outras necessidades básicas, o que possibilita um excedente de subnutridos, desempregados e excluídos. A ganância para o acúmulo de bens relegou ao ostracismo [ esquecimento ] a boa nova: "Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem em celeiros..." (Mt 6, 26).

A sociedade competitiva, consumista e opressora, em que as relações entre as pessoas são ideologicamente determinadas pelos objetos que cada uma possui, transforma o homem em objeto, isto é, em sujeito estatístico. Dessa forma, o semelhante é olhado apenas como lucro em vista: se não produz, consome ou favorece o lucro é descartado tal como a maioria dos objetos, o que caracteriza a "sociedade do descartável"; ou como ocorre com as mudanças periódicas e planejadas da moda do vestuário. E "estar na moda", ou uma expressão mais apropriada com a mídia, "estar na onda", é estar fazendo do semelhante, dos valores e da vida o que os meios de comunicação social determinam a partir do controle econômico. Em suma, a semente da violência.

Esse condicionamento tenta anular ou tornar tênue a única certeza da vida: a morte; e, ao mesmo tempo, fazer o homem acreditar que é um ser superior e eterno, como se a posse de objetos garantisse, por si só, uma vida plena e infinita.
Refletir sobre a morte é trabalhar uma crise que é exclusiva do ser pensante sobre um limite absoluto, individual e intransferível. Mas isso provoca a angústia, a qual deve ser negada na sociedade de consumo, pois o sujeito estatístico é condicionado a ser feliz ou ter admiração para com o avanço tecnológico, o luxo e o conforto que, a rigor, são apenas aspirações da maioria. É, paradoxalmente, uma alienação "integrada" na consciência social determinada pela globalização.

Em 1847 o médico húngaro Ignaz Semmelweiss descobriu que lavando as mãos numa solução anti-séptica se reduzia em quatro quintos o índice de mortalidade nas cirurgias obstétricas. Mas foi o inglês Joseph Lister, considerado o pai da cirurgia moderna, que por volta de 1865 adotou os princípios de Ignaz para a cirurgia geral, assim como os cuidados preventivos de assepsia do instrumental operatório. Até então, por desconhecerem os princípios da assepsia e mesmo bem intencionados em salvar vidas; os cirurgiões, durante o ato cirúrgico, por suas mãos e pelo instrumental contaminados, introduziam mais doenças no paciente.
O âmbito cultural é amplo e com múltiplas variáveis que se relacionam. Diferente, portanto, de um campo cirúrgico, pois é impossível estar livre da influência da mídia. Entretanto, a conscientização é uma forma de trabalho de reflexão que pode levar a uma crítica mais responsável quanto ao posicionamento no real. Em termos de idéias significa também uma verdadeira assepsia. E isso é imprescindível para viver com dignidade. Principalmente também é não prescindível quando a pessoa exerce uma tarefa pedagógica no sentido amplo.

Gedeão escolheu 300 homens porque ao tomarem água levavam a água à boca com as mãos; ao contrário dos outros que bebiam a água de joelhos. (Jz 7, 4-6). Levar a água à boca com as mãos indicava que esses homens permaneciam vigilantes.
É impossível estar totalmente fora do alcance da ideologia. Esta é como se fosse um rio do qual temos que depender para a sobrevivência, inclusive para saciar a sede. Mas é preciso estar vigilante e ser mais participativo, ou seja, a assunção [ato ou efeito de assumir] do sujeito estatístico para o sujeito pensante, crítico e portador de intenções, para que se possa fazer tanto ou mais barulho que as trombetas de Gedeão.

Fontes:

1. SAMPAIO, T.M.V. (1999). Provisoriedade em tempos de exclusão - aproximações teológicas ao tema. Impulso: Revista de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Metodista de Piracicaba, 11(25): 81-92.
2. Citado por SODRÉ, N.W. Síntese de História da Cultura Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, b v1974, p. 76.
3. ÁVILA, C.R.A. A Teleinvasão; a participação estrangeira na televisão do Brasil. São Paulo: Cortez & Moraes/UNIMEP, 1982.
4. CHAUI, M. O Que é Ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1982, pp. 82-83 e 113.
5. SODRÉ, N.W. Op. cit., p. 78.
6. ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, pp. 463 e 465.
7. BERLINGUER, G. Psiquiatria e Poder. Belo Horizonte: Interlivros, 1976, p. 19.
8. CAPRA, F. O Ponto de Mutação; a ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix, 1997, pp. 240 e 243.
9. VAN DEN BERG, J.H. Pequena Psiquiatria. São Paulo: Mestre Jou, 1970, p. 218.
10. ZAGO, J.A. Sociedade de consumo e droga. Impulso: Revista de Ciências Sociais e Humanas - UNIMEP, 11: 93-102, 1999.
11. PAVÃO, P.R.C. A unidade docente-assistencial de psiquiatria do Hospital Pedro Ernesto (UERJ) (Editorial). Informação Psiquiátrica, 18 (2): 33, 1999.
12. MARQUES, F.; DONEDA, D. A política brasileira de redução de danos à saúde pelo uso indevido de drogas: diretrizes e seus desdobramentos nos Estados e Municípios. O Mundo da Saúde, 23 (23): 10-19, 1999.
13। BURNS, E.M. A História da Civilização Ocidental: do homem das cavernas até a bomba atômica. Porto Alegre: Globo, vol. II, 1971, p. 796.


Grande Oriente do Brasil – GOB
Grande Oriente de Pernambuco – GOPE
Oriente de Recife
Programa Maçonaria Contra as Drogas – A Favor da Vida.
Dr. Hailton Arruda – Coordenador Estadual
Rev. Ielves Camilo – Facilitador.

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